Construída na década de 1970, a represa de Sobradinho é o maior lago artificial da América Latina e um dos maiores do mundo. Com mais de 200km de extensão no seu maior comprimento, o lago exigiu que cinco municípios baianos do seu entorno encontrassem um novo endereço a fim de ceder lugar para as águas que estavam por vir: Casa Nova, Remanso, Pilão Arcado, Sento Sé e Sobradinho.
Se os números da represa impressionam, a experiência de viajar pelo seu entorno e por dentro dela é ainda mais marcante e confere ao viajante a real dimensão da sua grandeza, beleza e imponência.
O roteiro que apresentamos a seguir tem início e término em Petrolina (PE) e pouco mais de 400km de extensão, podendo ser feito em um único dia para quem tem pressa, ou então em dois dias para quem deseja apreciar com mais calma não apenas as belezas da represa como também as paisagens do seu entorno. Neste caso, sugerimos a pernoite em Remanso (BA), antes de fazer a travessia com a balsa, ou então em Sento Sé (BA), logo depois da travessia.
O percurso de ida é feito pela parte de cima da represa, através da cidade de Casa Nova (BA), até Remanso (BA). São cerca de 200km de estrada asfaltada em ótimas condições (BR-235), que podem ser percorridos em cerca de três horas, sem pressa. No caminho, vale a pena parar para conhecer a vinícola Ouro Verde (um pouco antes de chegar em Casa Nova) e as Dunas do Velho Chico (um pouco depois).
Na chegada em Remanso (BA) deve-se dirigir até o local conhecido como “cais novo”, que é de onde partem os barcos e a balsa que fazem o transporte de passageiros e veículos entre a cidade e Sento Sé (BA). Este é o local utilizado quando o nível da represa está mais elevado. Quando ele está mais baixo os barcos partem do “cais antigo”, situado no leito da própria represa, alguns quilômetros adiante. Em qualquer caso, o acesso é feito em estrada de terra em boas condições. No “cais novo” existem dois restaurantes que atendem os passageiros que aguardam a partida dos barcos.
A balsa que faz a travessia não é grande e acomoda algo como três ou quatro carros, transportando inclusive caminhões. Além dela, alguns outros barcos transportam apenas passageiros. A balsa geralmente parte de Remanso (BA) de manhã e retorna de Sento Sé (BA) na parte da tarde. O trajeto sobre as águas tem cerca de 17km de extensão e é feito em aproximadamente 2h20m, quando o nível da água está mais elevado. Quando o nível está baixo, são gastos apenas 40 minutos. No caminho, pode-se avistar as velhas caixas d’água da antiga Casa Nova, troncos de árvore que se sobressaem do espelho d’água e diversas espécies de vegetação aquática.
Na chegada à Sento Sé (BA) a balsa navega ao lado de um morro, coberto com uma vegetação verde fechada, de grande beleza e onde uma grande quantidade de garças e outras aves podem ser avistadas com facilidade. A balsa atraca num local bastante rústico e sem nenhuma infraestrutura, conhecido apenas como “Aldeia”, depois de navegar por um estreito corredor entre plantas que cresceram por uma vasta extensão nas margens naquele lugar. A partir dali tem início uma estrada de terra que, depois de passar pelo centro do povoado, segue por outros 24km até o centro de Sento Sé (BA). No caminho, uma linda capela se destaca na paisagem, solitária no meio de um morro forrado de árvores do lado direito da pista. Entre o desembarque e a capela existe um trecho da estrada que está inundado. Por isso, deve-se pegar um atalho à esquerda, que depois retorna para a mesma estrada.
Para quem tiver tempo, vale a pena conhecer pelos menos dois pontos em Sento Sé: a orla, onde alguns barcos coloridos fazem uma linda contraposição com a vastidão da represa e a margem oposta da mesma, e o porto, abandonado, onde a vista da represa é magnífica.
A viagem segue agora pela parte debaixo da represa, entre Sento Sé (BA) e Juazeiro (BA), por outros 200km pela BA-710. Trata-se do trecho mais bonito de toda a viagem terrestre, mas também o mais difícil. Bonito, pois o percurso inteiro é feito com as águas da represa do lado esquerdo e belíssimas formações rochosas em forma de chapada à direita. Difícil, pois existe um trecho de 50km, antes da chegada em Piçarrão (distrito de Sento Sé), que está em obras e ainda é constituído, basicamente, por estrada de terra. Assim, a viagem toda entre Sento Sé e Juazeiro (que leva cerca de 3h30m) pode ser dividida em quatro trechos de 50km cada: o primeiro, na saída de Sento Sé, é asfaltado com alguns buracos, mas sem dificuldades mais sérias. O segundo, que vai até Piçarrão, é o trecho que está em obras e que apresenta maior dificuldade. São pedras, buracos e muita poeira, onde a velocidade máxima varia entre 30km/h e 60km/h sobre chão de terra na maior parte do trecho. Apesar das evidências de que obras estão sendo feitas no local, com o objetivo de pavimentar este trecho da rodovia, é certo que nada sugere a conclusão das mesmas no futuro próximo.
O terceiro trecho de 50km é o que leva de Piçarrão até Sobradinho (BA). Antes de fazer o percurso, no entanto, vale a pena dar uma parada em Piçarrão para usufruir de uma outra linda vista da represa. Para chegar lá, deve-se seguir por uma estrada de terra com areia de 7km de extensão a partir da BA-710 (em caso de dúvidas, consultar no posto de gasolina que fica junto à ponte sobre o rio Piçarrão). Apesar da areia, o trecho pode ser percorrido sem grandes dificuldades. Ele conduz a uma grande planície deserta onde a vastidão se encontra com as águas da represa e a sensação de liberdade e amplitude compensa a distância e o esforço despendidos. De volta, o caminho prossegue a partir do rio Piçarrão e segue no asfalto de boa qualidade até Sobradinho. O quarto e último trecho de 50km leva de Sobradinho (BA) até Juazeiro (BA), também asfaltado, onde acaba a viagem.
No trecho entre Sento Sé (BA) e Sobradinho (BA), pelo menos, duas usinas eólicas podem ser vistas na paisagem. A primeira, mais distante no horizonte, fica na região do Piçarrão e possui grande extensão, podendo ser avistada do lado direito da pista. A segunda, um pouco antes de Sobradinho, fica do lado esquerdo da pista e fica bastante próxima da mesma.
O percurso todo deste roteiro não é tão grande, mas a quantidade de pontos de interesse que existem no caminho justifica uma viagem feita sem pressa, com curiosidade, espírito de aventura e, não menos importante, uma máquina fotográfica para registrar toda a beleza da represa e do seu entorno. Planeje a sua viagem e aproveite bastante este fantástico e ainda pouco conhecido circuito das águas sertanejo.
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