Os amantes da natureza, quando se dirigem para Canudos (BA), procuram como principal destino de visitação a Toca das Araras, mais conhecida como “Estação Biológica de Canudos”.
O local, situado nas margens do Raso da Catarina, possui uma formação geológica muito diferenciada e uma flora e uma fauna bastante ricas, que incluem a famosa ararinha azul, já ameaçada de extinção, mas que ali pode ser observada à distância.
O lugar, no entanto, é administrado por uma entidade privada, a Fundação Biodiversitas, que impõe uma série de exigências e restrições ao visitante de última hora. Por isso, apresentamos aqui um roteiro alternativo, de acesso livre, que inclui pontos de interesse no entorno da Toca das Araras, ao mesmo tempo em que permite ao visitante usufruir das mesmas paisagens, flora e fauna.
Este roteiro percorre o local conhecido como Toca Velha. São pouco mais de 7km de estrada de terra que passam ao largo da Toca das Araras e conduzem o visitante a três pontos de grande interesse histórico, cultural, geológico e religioso. O caminho inicia na BR-235, do lado oposto da área urbana de Canudos. Estes 7km podem ser percorridos a pé, porém o sol, o calor a o excesso de areia no chão tornam a caminhada um pouco difícil. Ir de carro pode ser uma boa ideia, mas apenas se ele tiver tração nas quatro rodas. Caso contrário, o veículo certamente irá atolar em algum ponto do caminho. Então, uma opção é ir de carro até onde der (isso dependerá da quantidade de chuvas recentes, entre outros fatores), e depois seguir o restante do caminho a pé.
O primeiro ponto de interesse (distante pouco mais de 6km do início do caminho) é a casa de seu Zequinha da Toca. Construída totalmente em taipa (inclusive o teto), ela chama a atenção pelas suas grandes dimensões e o fato de estar situada em cima de uma grande rocha no meio de um lindo vale. A casa é habitada apenas eventualmente, quando o seu Zequinha não está na cidade.
Seguindo adiante, a trilha segue pelo leito de um riacho seco, onde a circulação de veículos motorizados é proibida. Ali, a cerca de 800m da casa do seu Zequinha, fica uma espécie de gruta que abriga uma antiga Casa de Farinha. Usada por décadas, inclusive por parentes e antepassados de pessoas que ainda hoje moram na área urbana de Canudos, esta Casa de Farinha, construída sob o abrigo de uma imensa proteção rochosa natural, é composta por forno, moagem, ferramentas e utensílios antigos utilizados na produção da farinha, alimento básico das pessoas da região. Atualmente abandonada, a Casa de Farinha parece um grande monumento à um passado distante, e encontra-se abandonada sem nenhum tipo de preservação ou proteção, como seria de se esperar.
Mais à frente, a cerca de 200m de distância, do mesmo lado esquerdo, fica uma outra gruta situada no mesmo morro. Esta segunda gruta pode ser facilmente identificada por uma grande cruz, colocada em posição elevada, que indica que o local é palco de uma missa anual, durante a Festa do Bom Jesus. Atrás da cruz, um pequeno altar com imagens de santos e do padre Cícero, além de velas e outros itens, confirma o uso que é feito do lugar. Diferentemente da gruta onde está situada à Casa de Farinha, esta gruta se estende por dentro do morro até ficar totalmente escura e repleta de morcegos. Do lado do altar, uma outra gruta serve como ponto de coleta de água, possivelmente usada para abastecer os fiéis que para lá se dirigem durante a festa no mês de setembro.
Um pouco mais de uma manhã ou uma tarde são suficientes para fazer o percurso de ida e volta, visitando os três pontos de interesse e caminhando por boa parte dos trechos. As recompensas serão as lindas paisagens encontradas pelo caminho, formadas por uma terra avermelhada, morros cheios de relevos e vegetação abundante, além da experiência de conhecer um altar, uma residência e uma genuína Casa de Farinha sertanejas. Desnecessário dizer que, qualquer que seja o meio de transporte, proteção solar, água e lanches, além de roupas leves e folgadas, são itens fundamentais para esta empreitada.