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Penitentes

Os quarenta dias que antecedem a ressurreição de Jesus Cristo, em Juazeiro, semiárido da Bahia, costumam ser de intensa devoção. Isso porque os rituais do período litúrgico que antecedem a Páscoa cristã, a Quaresma, se exprimem em duas expressões religiosas: os Disciplinadores e as Alimentadeiras das Almas.

Tida como a mais antiga e secreta expressão da Penitência, a prática dos Disciplinadores remonta à chegada dos capuchinhos e franciscanos, que fundaram a cidade no início do século XVIII.

São também conhecidos como o “cordão-dos-que-se-cortam”, porque praticam o autoflagelo. Para se afastar de curiosos, costumam fazer o ritual na casa do Guia, liderança do grupo, ou pela madrugada, nos cemitérios.

Já as Alimentadeiras das Almas, cuja origem histórica é tema de calorosas discussões, tem uma datação que oscila entre meados do século XVIII e o ano de 1901. Os Cordões saem de suas respectivas Casas de Orações entoando benditos e ladainhas. Uma cruz preta de cedro virgem entrelaçada por uma toalha branca com o rosto de Jesus Cristo vai carregada pela primeira Alimentadeira do Cordão (geralmente um homem). Logo atrás, uma Penitente faz soar a matraca – instrumento de percussão feito de uma tábua de madeira com uma argola de ferro que, ao ser girada, produz um ruído seco.

Até terminar o ritual de cada noite, as Alimentadeiras terão cumprido sete estações, em sete cruzeiros espalhados pelo percurso. Sete também é o número de anos do compromisso que cada membro do Cordão assume com a Penitência. Se acaso não cumprirem o tempo previsto, um parente deve substituir. Ao terminar o compromisso com saúde, geralmente, o Penitente o renova por mais sete anos.

A defesa da tradição e a devoção pelo ritual são os principais motivos da permanência das Alimentadeiras. Os poucos grupos que restaram mantêm a peregrinação pelas estações, mesmo tendo de enfrentar o crescimento desordenado do espaço urbano e a falta de segurança. Com determinação secular, os penitentes lutam para manter acesa a chama da fé que ilumina as noites da Quaresma juazeirense.

Fotos: Adeilton Júnior | Raryana Cardoso

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