Elas levam aproximadamente 60 dias para serem produzidas, numa colcha de retalhos de solda com 20 metros de comprimento por 4,2 metros de largura e um metro de profundidade. Terminado o empreendimento, são batizadas por seu proprietário e entregues ao sabor das marés.
Até hoje não se sabe se as cidades de Juazeiro (BA) e Petrolina (PE) acordam com o ronco do motor das barcas ou se as barcas acordam com os passos apressados de seus primeiros passageiros.
O que se sabe é que às seis horas da manhã a primeira embarcação parte de umas das margens do Rio São Francisco em direção à cidade vizinha, inaugurando o dia entre os primeiros raios de sol. E, pelo menos, até as 23 horas, tudo é poesia no balanço gostoso sobre as águas do Velho Chico.
Entre 1958 e 1972, as barcas eram o principal meio de circulação da riqueza ribeirinha. A construção da barragem de Sobradinho, em 1973, esvaziou-as de gêneros de primeira necessidade e deslocou os barqueiros para o transporte diário de pessoas. Ainda na década de 1970, com os constantes engarrafamentos na ponte Presidente Dutra, as barcas se apresentaram como um transporte alternativo e barato.
O visitante não deve perder uma grande oportunidade de apreciar uma das vistas mais privilegiadas sobre o Rio São Francisco. Os cerca de dez minutos da travessia no balanço prazeroso das águas são suficientes para revitalizar as energias – experiência de quem atravessa o rio praticamente todos os dias após a labuta. Sem contar que esse pode ser mais um momento de interagir com a comunidade local, especialmente aqueles que moram em uma das margens e trabalham ou estudam na outra. O certo é que histórias (e estórias) de travessias não faltam no vai e vem sincronizado que une as cidades em torno de uma magia colorida pela paisagem multicor do Rio São Francisco.