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Serenata Recordar e Viver

Assim como já acontece há vários anos em Santa Maria da Boa Vista (PE), uma nova tradição se instala na cidade baiana de Curaçá, nas margens do Velho Chico e distante apenas 95km de Petrolina (PE) e Juazeiro (BA).

É lá que acontece a Serenata Recordar e Viver, uma versão mais modesta da Serenata da Recordação pernambucana, e que teve em 2019 a sua 4ª edição (a de Santa Maria da Boa Vista terá a sua 20ª edição em julho deste mesmo ano).

Diferentemente da Serenata da Recordação, a Serenata Recordar e Viver não inclui na programação nenhum show de artista famoso. Ao contrário, a Serenata de Curaçá tem como artistas principais os próprios seresteiros, além de outros filhos e artistas ilustres da terra. Acontece sempre no mês de maio, através do esforço de um grupo de amigos sob o comando do Antônio Plauto e José Raul. Segundo Plauto, Curaçá (BA) tem uma antiga tradição de serenatas, e o objetivo dele e do seu grupo é resgatar esta tradição valorizando artistas da região, como é o caso do prolífico Seu Mano.

O resultado não poderia ser melhor e mais encantador. Sob uma linda lua cheia, a noite começa com um jantar fechado para os seresteiros, a imprensa e convidados num restaurante da cidade. Ali vão chegando aos poucos os seresteiros, alguns da cidade e outros de fora, todos nos seus impecáveis ternos brancos e com os seus respectivos instrumentos. Ao longo do jantar, necessário para enfrentar uma noite que se estenderá até as primeiras horas do dia seguinte, começa também o aquecimento, uma espécie de ensaio final para as canções que serão entoadas por longo período.

Terminado o jantar, o grupo inicia um percurso a pé pelas ruas da cidade, ao mesmo tempo em que vão desfilando um belíssimo repertório de canções eternas que tocam ao coração de um grande grupo de seguidores e admiradores. Neste percurso são visitadas oito residências que, preparadas para receber os seresteiros e os seus seguidores (o público em geral), reservam grande quantidade de salgados e petiscos, além de bebidas de todo o tipo, que são oferecidas gratuitamente para todos que por ali passam.

Em cada casa onde param, os seresteiros relembram os seus antigos moradores, contam histórias do passado, emocionam os moradores e cantam as suas canções preferidas, além de atender a pedidos. Depois acontece a partida, e tudo recomeça na próxima casa, geralmente distante algumas dezenas de metros da casa anterior. As emoções vão aflorando, o repertório passa das serestas, valsas e boleros para o samba, os amigos se reencontram e o clima é o de uma grande festa de confraternização entre todo o público presente. Um evento que tem como pano de fundo uma cidade linda e bucólica, que garante o romantismo necessário para um evento deste tipo.

Depois de várias horas de caminhada e cantoria, com paradas que incluem a casa do padre e a casa do prefeito, o grupo de seresteiros conduz a multidão até um palco montado num descampado entre a orla e o antigo prédio da prefeitura, onde todos se acomodam em mesas e cadeiras com serviço de buffet para continuar assistindo a programação de discursos, apresentação de artistas locais e entrega de homenagens. Ali, a cantoria vai até as primeiras horas da manhã, como convém ao legítimo seresteiro.

No dia seguinte, os seresteiros se encontram na Pousada Campestre para o café da manhã e o almoço. O clima é mais descontraído, mas a conversa é igualmente animada e acompanhada por uma deliciosa feijoada preparada no local. A música continua sendo o centro das atenções, mas agora num clima de total informalidade.

Participar da Serenata de Curaçá é uma grande experiência de vida. Não se pode, também, deixar de reconhecer e agradecer o esforço e o mérito de pessoas como Plauto e Raul no sentido de resgatar e preservar as lindas tradições esquecidas de Curaçá (BA). Vida longa para eles e os demais seresteiros, assim como para a própria Serenata Recordar e Viver.

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