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Centro Cultural Ana das Carrancas

Ana das Carrancas é, possivelmente, a maior expressão do artesanato da região do Vale do São Francisco em todos os tempos. Nascida Ana Leopoldina dos Santos, em 1923, em Ouricuri (PE), ela aprendeu a moldar o barro com a mãe e passou a trabalhar com ela na produção de utensílios de barro ainda jovem. Aos 22 anos casou-se e teve duas filhas. Mais tarde, viúva, casaria-se novamente com o homem com quem viveria pelo resto da sua vida.

Vivendo em Petrolina, onde chegou em 1954 em busca de uma vida melhor, ela sofreu a concorrência de outras produtoras e também a escassez do barro.

Incansável, conseguiu matéria-prima nas margens do Rio São Francisco, de onde também tirou inspiração (através da observação das carrancas de madeira ostentadas pelas embarcações) para criar as primeiras peças (a primeira data de 1963) que depois viriam a se tornar as suas famosas carrancas.

As carrancas fazem parte do folclore do Rio São Francisco e não foram inventadas por ela. Ao contrário, desde há muito tempo (final do século XIX) os navegadores do rio utilizam as carrancas de madeira como elemento para afastar os maus espíritos do rio e garantir uma viagem segura. Para atingir este objetivo a carranca normalmente representa o busto de uma figura humana misturada com algum animal, com expressão assustadora.

Com o passar do tempo, especialmente a partir de 1970, a produção de Ana das Carrancas se tornou peculiar e muito diferenciada, sendo apreciada nos quatro cantos do mundo e requisitada não apenas por causa do seu objetivo funcional, mas também do seu grande valor artístico. Por causa dele, Ana das Carrancas conseguiu grande reconhecimento em museus, galerias, governos e colecionadores do Brasil e do mundo, tendo como consequência constituído uma invejável coleção de homenagens, prêmios, troféus, diplomas e medalhas. Uma característica marcante da sua obra são os olhos vazados das carrancas por ela produzidas, que seriam uma homenagem ao seu segundo marido, deficiente visual.

Parte de sua obra está abrigada no Centro Cultural Ana das Carrancas, inaugurado no ano 2000 em Petrolina (PE). O centro também abriga um pequeno memorial formado por fotos, recortes de jornal e prêmios conquistados pela artesã. Suas filhas Maria da Cruz e Ângela Lima, que também são ceramistas e herdeiras diretas do talento da mãe, são as responsáveis pela administração do local.

O Centro Cultural Ana das Carrancas é uma instituição de caráter privado, sem fins lucrativos, que tem como objetivo preservar e divulgar a arte de Ana das Carrancas. Além disso, promove o resgate e o intercâmbio da arte e da cultura regionais, realiza seminários, encontros e cursos de produção cultural de artesanato com o objetivo de gerar renda e promover atividades de cunho social. Fundado em 1995, o Centro Cultural Ana das Carrancas é uma referência regional no artesanato de barro.

Em 2006, Ana das Carrancas recebeu o título de Patrimônio Vivo de Pernambuco. Ela faleceu dois anos mais tarde, em 2008, aos 85 anos de idade. As visitas ao Centro Cultural que leva o seu nome são guiadas pelo seu neto Edgar.

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